O caminho pela “força” ?
“E, desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino do céu sofre violência, e os violentos o tomam pela força.” Mt. 11:12
Toda a história da Igreja da forma como conhecemos hoje em dia , tem como ponto referencial de partida o ministério de João Batista. Aquele que foi chamado de a “Voz que clama no deserto”, indicando já pelo próprio sentido e interpretação a grande dificuldade da sua missão. João Batista fazia parte do plano de Deus para o resgate do homem. Seria ele, João Batista, que daria o início ao ministério de Jesus ao batiza-lo e aponta-lo como o Cordeiro de Deus ( Jo 1:29 – 34 ) , aquele que traria a mensagem do arrependimento, que posteriormente iria ser amplamente difundida por Jesus, o Cristo.
Este período de preparação realizado pelo Batista foi crucial para que Jesus assumisse a sua missão no tempo provido por Deus. Aqueles que seguiam a João Batista foram orientados por ele a caminhar com Jesus, aquele que segundo as suas próprias palavras era: ” aquele que vem após a mim, que era antes de mim” Jo cap. 1 – vers. 27. O caminho para a revelação e o conhecimento do Reino de Deus estava aberto, porém esta transição não seria suave e tranquila, muito pelo contrário, seria de forma violenta, dura e sangrenta. João devido a sua atuação firme, dura e incisiva, granjeou uma quantidade imensa de inimigos, e muitos nas classes da elite governante judaica. Esta situação literalmente lhe custou a cabeça, sua morte foi o ato final de uma vida totalmente dedicada ao serviço do Reino. O próprio Jesus declara : “Na verdade eu vos digo: Dentre os nascidos de mulheres, não apareceu um maior do que João, o Batista” Mt. 11:11.
Todo este cenário de força, opressão e violência era apenas a prefiguração do que viria a acontecer na sequencia dos acontecimentos. O texto citado inicialmente vem através dos tempos sofrendo uma série de interpretações. Vamos nos focar em uma das vertentes de estudos existentes, para tentar uma visão comparativa dos tempos de Jesus, com o nosso tempo, mesmo porque o texto bíblico sempre está apontando para a direção que devemos olhar, compreender e tomar para nós como verdade.
No texto de Gálatas cap. 4:4 , vemos o tempo de Deus sendo explicado desta forma: “mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para redimir os que estavam sob a lei, para que recebêssemos a adoção de filhos”. A plenitude dos tempos nos mostra, que tudo estava segundo a vontade de Deus, o lugar estava preparado, o momento era o escolhido, os ouvidos estavam preparados, a estrutura que iria difundir a mensagem pregada estava toda pronta. Até mesmo a violência que existia na repressão romana as suas colonias, iria ser um elemento importante no plano de Deus.
Os embates religiosos que surgirão inicialmente através da mensagem nada suave de João Batista, foram intensificados com a pregação de Jesus. As classes sacerdotais e as seitas existentes, todas estavam se sentindo ameaçadas no seu domínio e poder territorial. A mensagem do arrependimento não poupava a ninguém. Ricos e pobres, influentes e desconhecidos, governantes e governados, todos estavam sendo chamados a uma profunda reflexão com respeito a sua vida secular e espiritual, o confronto da pregação seguia em direção a rever os conceitos morais e de costume. No texto de Gálatas acima está o ponto central do problema do entendimento:” nascido sob a lei, para redimir os que estavam sob a lei”. A sociedade judaica vivia sob a sombra da lei. A busca pelo o seu cumprimento esbarrava na capacidade individual de cumpri-la na integridade.
Esta pressão pelo confronto de idéias explodiu de forma violenta. Ao admitir a total incapacidade de primeiro, aceitar os seus erros e pecados e no segundo momento, aceitar a autoridade de Jesus no tocante as verdades que eram reveladas, a opção por agir com violência foi a mais simples e aceita pela maioria. Quando o texto fala: “desde os dias de João, o Batista, até agora, o reino do céu sofre violência, e os violentos o tomam pela força”, ele nos mostra exatamente este embate. Uma nova realidade espiritual sendo mostrada, uma nova experiencia sendo apresentada, um reino de justiça sendo descortinado, e tudo isto sendo confrontado a dura realidade vivida pelo povo judeu debaixo do domínio do império romano. Poderíamos neste momento nos perguntar, como este seria o tempo correto e perfeito escolhido por Deus?
O apostolo Paulo aborda de forma perfeita a maneira que Deus tratava com o complicado ser humano, pois expunha a dualidade das interpretações como elemento essencial na compreensão da sua vontade. No texto da carta de I Corintios cap. do vers. 17 ao 31, Paulo expõem as intenções de Deus ao confundir o entendimento do homem em um primeiro momento , para a partir daí apresentar a verdade da salvação em Cristo Jesus , através da vergonha da Cruz. O texto nos diz: “Porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens; a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens” I Co cap. 1 vers. 25. É neste ambiente de aparente dualidade, que a suavidade do Amor de Jesus contrasta com a violência reinante de uma Palestina ocupada, que libertação pregada por Jesus seja individual e da alma e não a libertação física e política do Império Romano. A proposital e incisiva forma que Deus utiliza, vem mostrar claramente a importância primordial da Salvação e Redenção do homem, em detrimento total e absoluto a todas as demais coisas. Este era o seu plano, o resgate daquele que tinha se perdido e somente poderia ser encontrado através do sacrifício do seu Filho Jesus.
Se hoje em dia podemos ter uma leitura um pouco mais clara e precisa a respeito destes fatos e acontecimentos já totalmente conhecidos, não podemos ter dúvidas em relação a forma e intensidade da “força e violência” e principalmente a direção em que ela deve ser exercida. Existe uma passagem para mim muito significativa , pois me apontou de forma clara a direção para a minha conversão, está no evangelho de Marcos cap. 12 vers. 30 e 31: “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes”. A intensidade apresentada nas palavras de Jesus ao ser questionado a respeito do maior mandamento, mostrava a aquele povo que o questionava e a nós hoje que também temos dúvidas , qual deve ser o tamanho do nosso esforço para lutar pela nossa Salvação e principalmente pela manutenção desta Graça concedida. De todo nosso coração , de toda nossa alma , com todo nosso entendimento e com todas as nossas forças. Acredito que não há mais espaço de dúvidas do quanto temos que lutar, com força e violência, porém com Amor , compreensão e suavidade.