O véu se rasgou
“E eis que o véu do templo se rasgou em dois, de alto a baixo; e tremeu a terra, e fenderam-se as rochas” – Mateus 27:51
No mesmo instante em que no Monte Calvário estava sendo consumado o ato de maior dramaticidade , relevância e de Amor da história da humanidade , a pouco mais de 1000 metros dali , no Templo de Jerusalém , o véu que fisicamente cobria e impedia que presença de Deus fosse acessada , rasgava-se de alto a baixo , indicando que o sobrenatural de Deus estava agindo , estava se manifestando.
A partir do momento em que a ideia da construção do Templo saiu do coração de Davi , e se concretizou no reinado de seu filho Salomão ( II Cr. cap. 3 ) todos os esforços para que fossem reproduzidos com perfeição todos detalhes e ordenanças a respeito do Tabernáculo , não foram poupados. Tais orientações contendo a “planta” completa do Templo foram entregues por Davi a seu filho ( I Cr. cap. 28 ) juntamente com amplos recursos materiais obtidos através de inúmeras ofertas de reinos vizinhos . Repassou também definições estruturais , administrativas , sacerdotais , mas principalmente deu a seu filho total apoio e conforto espiritual , para a grande empreitada que tinha a frente. A execução e cumprimento com perfeição do projeto era ponto inquestionável , pois a manifestação do poder e presença de Deus estaria naquele lugar.
Para nos focarmos no texto inicial , o local protegido pelo véu era denominado de o “Santo dos Santos” . Ali só poderia entrar o Sumo Sacerdote em datas especiais e determinadas , após realizar criterioso processo de sacrifício , purificação e limpeza corporal e espiritual. Vejam o texto a seguir: “Disse, pois, o SENHOR a Moisés: Dize a Arão, teu irmão, que não entre no santuário em todo o tempo, para dentro do véu, diante do propiciatório que está sobre a arca, para que não morra; porque eu apareço na nuvem sobre o propiciatório” ( Lev. cap. 16 – vers. 2 ). Percebam que mesmo para Arão que era o Sumo Sacerdote ordenado por Deus , o acesso era restrito aos dias e eventos determinados. O rigor dos ritos sacerdotais e religiosos eram seguidos a risca e sem contestação , pois o temor quanto a manifestação da ira do Senhor era “real”.
Quando Jesus suspirou de forma derradeira na cruz do Calvário e imediatamente em seguida o “véu” do templo se rasgou , não apenas foi desfeita uma barreira física que “guardava” a presença de Deus , não foi uma simples quebra dos ritos religiosos ou mudança de conceitos tradicionais. Mais do que isto , Jesus estava desnudando o que estava encoberto com a manutenção de velhas estruturas sacerdotais. Podemos ver esta afirmação no livro do profeta Isaías: “E destruirá, neste monte, a máscara do rosto com que todos os povos andam cobertos e o véu com que todas as nações se escondem”. ( Is. cap. 25 – vers. 7 ) . Ao mesmo tempo da ruptura do véu no templo , a terra estremece de forma prodigiosa com uma movimentação violenta das rochas , fazendo com que os sepulcros se abrissem (Mt. cap. 27 – vers. 52) e que corpos de santos ressuscitassem.
O sobrenatural de Deus estava mostrando com toda sua força e poder que uma mudança estava acontecendo , o destino e a história da humanidade estava vivendo e conhecendo a execução do plano de Salvação que tinha como consumador o seu filho Jesus Cristo. Passava a estar ao alcance de todos os homens uma nova chance , uma nova esperança , como descrito no livro de Hebreus: “Essa esperança mantém segura e firme a nossa vida, assim como a âncora mantém seguro o barco. Ela passa pela cortina do templo do céu e entra no Lugar Santíssimo celestial”. ( Hb cap. 6 – vers. 19 ). Antes o homem tinha uma barreira física e espiritual que o impedia de buscar uma intimidade com Deus , onde precisava de intermediários , ritos e sacrifícios exteriores para obter o perdão divino. O texto de Efésios é esclarecedor: “Porque Ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio” ( Ef. cap. 2 – vers. 14 ).
Apesar de tudo isto , ainda hoje vemos alguns “véus” que ainda resistem ; o véu da acepção das pessoas , representado pelos preconceitos discriminatórios ; o véu da hipocrisia , representado por todos aqueles que desviam , deturpam , fraudam e abusam do poder recebido ; o véu da falta de respeito , representado pela total insensibilidade em reconhecer os direitos que todos nós possuímos como seres humanos. No fundo a existência de todos esses “véus” fazem partem de um só problema , a falta de amor , conforme está descrito em Mateus cap. 24 – vers. 12 : “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos se esfriará”.
Todos nós que temos compromisso com Jesus , não podemos silenciar frente a tentativa de minimizar o tamanho e o alcance do seu sacrifício na cruz do Calvário. Buscar insistentemente viver a verdade da sua Palavra deve ser o nosso principal alvo e objetivo.